quinta-feira, 25 de março de 2010

Enfim, professora. Gostos e dissabores.

Desde que me tornei uma professora indigesta não havia postado ainda. Tenho postado por aí, nas escolas, ao vivo. HOje me abundo na frente da nova caixa de isolamento social pra contar umas experiências novas sobre esse mundo fantástico da educação pública municipal.
Antes de dar pormenores da atividade docente, é preciso registrar aqui que não se vê mais em vila (pelo menos as daqui do município), aquele ícone dos anos 80 e 90: crianças desnutridas. Não sei se foi o município que cresceu e melhorou as condições de emprego, se foi o bolsa-família, ou o aumento do valor do salário mínimo, o que eu sei é que não existem mais aqueles ranhentinhos estrapilhados com suas protuberantes barriguinhas verminosas choramingando pelos cantos. Quem não se deprimia com aquilo? Quem não se revoltava?
Tem outra coisa que ataca até os profissionais docentes e eu não sei se é boa ou ruim: acabou a etiqueta. Quem aí comenta pra mim o que acha sobre isso? Estou me sentindo conservadora por estar me sentindo um pouco incomodada com isso.
Outra: nós da classe mérdia somos mesmo uns molengas. MInhas alunas do EJA tem 3 filhos, nenhum marido (já pensou se fosse o contrário?), subempregos, viajam 12 km de bicicleta diariamente. Sustentam seus filhos, namoram, trabalham, estudam e se locomovem com um sorriso no rosto. Preciso é ver minha cara quando saio às quintas e sextas de bicicleta pra escola que fica a 3 km de casa. É como se os outros tivesse obrigação de me carregar. O povo é mesmo incrível. Tem muita gente aí que mata um leão por dia. É preciso dar mais valor pro povo. Acho até injusto que eu tenha algumas coisas que esses guerreiros não têm.
O pior é que meus colegas não percebem isso. Criticam esses alunos, acham que é um horror ter filhos que eles mesmos (os pais) sustentam, que é um desaforo o aluno ter merenda. Que o povo tá ganhando bolsa-família parado, sem fazer nada. Não se dão conta que eles só recebem o que lhes é de direito. E que se o governo desse um bolsa-família pra cada professor, eles aceitariam correndo. Como os professores são conservadores! E é isso que me incomoda mais na profissão. Não são todos. Mas eu me sinto um peixe fora d'água. Palavras de Jota Cristo (como diria Falcão, um dos poucos que querem se parecer burros e com isso mostram mais inteligência), Bertolt Brecht (sim), são mote para interpretações preconceituosas e conservadoristas. Isso me assustou um pouco. Mas não são todos. Não são todos.