quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Noel Rosa, criador da Mulher Indigesta

Sobre Noel Rosa, a quem o nome deste blog é homenageia, contam um causo bem engraçado. Dizem que um amigo o encontrou às 7 da manhã sentado a uma mesa de bar com uma copo de cerveja e outro de conhaque sobre a mesa. Indignado, o bom amigo recomendou que Noel, tuberculoso e frágil, se alimentasse bem, principalmente de manhã, para ter melhor saúde. Ora, muito inteligente, Noel o convenceu que um copo de cerveja tem os mesmos nutrientes de um prato de arroz e feijão. ‘Sim, mas e por que o conhaque?”, pergunta o inocente amigo “È que eu não consigo comer sem beber”, responde o mestre.

domingo, 27 de setembro de 2009

Colcha de retalhos

Preciso atualizar as postagens mais amiúde. É muita coisa pra falar, como se não bastasse minha verborragia. Cada causo é um causo, e vamos tratar deles de forma separada.
Causo 1 - Professora malvada que obrigou rapaz a pintar uma parede.
Era bem bom se esse moleque já começasse a pintar umas casas pro Natal, e levasse algum pra casa. Meu pai, na idade dele, era servente de pedreiro e trabalhava das 7 às 18 virando massa e carregando pedra. "Quero ser o primeiro a riscar a parede", disse o moleque antes de vandalizar a sala. Ou seja, tinha intenção do fato. Não foi ao mutirão de pintura da escola. Graforréia Xilarmônica nele "bota o guri no colégio interno". Aqui em casa, quem suja, limpa. Por que na escola seria diferente?
Causo 2 - escolas indígenas - taí meu ideal de escola. Sempre achei que prender crianças e adolescentes dentro de 4 paredes e os manter lá, como molas encolhidas, loucos pra sair (olha o corre-corre na saída)é uma espécie bem requintada de tortura. Uma coisa (escola) pensada por adultos não pode atender plenamente a necessidade de uma criança. Cheguei a desacreditar a minha profissão,embora soubesse que se eles não estiverem nas salas de aula, estariam nas bocas de fumo (ainda se usa essa expressão?), e que, portanto, a escola era uma alternativa "menos pior". A escola indígena não respeita só a sua cultura, mas a cultura de todas as crianças. Lá, não é obrigatório ficar na sala de aula e quem não acompanha tão bem as aulas (os burros, no meu tempo cruel), é tratado como igual pelos outros e professores. Do conteúdo ao material didático, tudo baseado na prática e contextualizado à sociedade indígena. Aposto como eles não aprendem Revolução Francesa (eu tenho uma implicãncia com essa Revolução francesa que nem queiram saber). Os professores são quem eles já respeitam naturalmente. Duvido uma cadeirada na cabeça do professor. Ah, duvido.
Olha aqui.
Causo 3 - Pré-sal - O dinheiro do pré-sal vai ser todo pra educação, ciência e cultura? Quero ver se o salário dos professores vai aumentar. Assim como quando o Brasil se tornou auto-sustentável em petróleo e o gás GLP e os combustíveis aumentaram de preço. Qual é a graça, então?
Causo 4 - Yeda Crusius - Afinal, sai ou não sai? Se sair, fica Feijó? Se cassada a candidatura, entra o Tarso? Ou é mais vantagem agora ela ficar apanhando até as eleições de 2010, pra evitar perdas políticas e gastos com orçamento gaúcho e tomar uma lavada no pleito?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Lhama não existe, morcego não é mamífero

Olhem só. Essa semana estou dedicada a homenagear as intituições de minha educação formal. Então, vou contar uma historinha sobre minha primeira série, seguida de uma historinha da minha terceira série.
Na primeira série eu estava com uma bolsa de estudo numa escola de confissão católica. Era a mais pobrezinha das crianças da escola inteira. Isso me incomodava um pouco, mas como quando a gente é criança o que importa é ser feliz, não chegava a ser um pesadelo. Porém, essa bolsa foi concedida para mim mediante um teste. Fiz vestibulinho pra entrar naquele colégio. Passei com nota dez! Sim, havia isso também, ou vocês acham que filho de pobre estudaria na única escola particular da cidade se tivesse educação de pobre? Educação de pobre significava não ter dinheiro pra cursar o pré ou frequentar escolinhas infantis e ter uma família com poucos recursos pedagógicos. Mas, felizmente (ou não),minha mãe conseguiu me dar um incentivo bom nessa história de aprendizado. Enfim, passei com louvor e ingressei aos 6 anos na primeira série. No meio do ano, aprendi (de mentirinha porque eu já sabia muito bem) o "lh". A professora de então pediu palavras com lh. Lá foi a linda menina loira e de olhos azuis escrever a única palavra que conhecia começando com lh: lhama. Pronto. Bastou para que eu descobrisse que a professora sabia menos que eu. Juro. Ela disse que lhama não existia. É um bicho, tia. Não, não tenta me enganar, não existe essa palavra. Sentei desolada na minha carteira, pela primeira vez, tendo de repetir o exercício. Cheguei em casa e conferi num livro de geografia: lhama, animal que vive na américa do sul e central. Parece um dromedariozinho.
Mas o pior está por vir. Na terceira série o contexto era outro. Perdi minha bolsa na escola e não conseguia vaga em lugar nenhum. Lembro das mães passando a madrugada nas filas pra conseguir vaga nas escolas públicas, caso contrário, a gente perdia o ano! Minha pobre mãe consegui uma vaga na periferia. Um colégio municipal esquecido por tudo e todos. Ninguém sabe o que eu passei no meio ano que estudei lá. Que horror. Mas o pior era a professora. Pra encurtar a história, citei, durante um exercício de ciências, o morcego como mamífero. Sim, engulam essa. A sábia mestra riu e corrigiu essa que naquela época era uma menina indigesta, quase uma azeitona com caroço. Fiquei fula. Eu era persegida pra c$%$&¨naquela escola, todo o mundo esperava um escorregão meu. Tinha 8 anos e sabia mais que a grande mestra. Não saber àquela altura da vida que morcego é mamífero me choca ainda hoje.
Mas, no meio do ano, fui transferida para uma escolinha muito simpática, pertinho de casa. Pública, é claro. Estadual. Lá a coisa funcionava melhor. Minha prof era muito boa. Mas a explicação sobre o comunismo merece um post a parte.
Nem na melhor escola da cidade, nem na pior, havia gente boa o suficiente pra poder avaliar esta que vos posta. Afff
Tá bom, bem menos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Homenagem a faculdade de Letras (e obstetrícia)* da UFPEL

*Letras e obstetrícia porque lá, tudo era um parto
Olha o que eu escrevi há um tempo atrás,quando estava no 6º semestre da faculdade de Letras da UFPel. Aliás, uma das melhores do Brasil. Fiquei feliz ao ver essa notícia, quentinha, saída do site (clique aqui)
Não fiz Enade, fui dispensada porque me formei em agosto. Em homenagem a minha faculdade, vai o meu texto.


Sistema socioeconômico contemporâneo e a educação das massas ludibriadas

Mulher Indigesta


"Se pós-modernidade quer dizer um estágio à frente da modernidade, não se pode cogitar escrever qualquer coisa que não seja profecia. A pós-modernidade ainda não chegou. Mas, se a proposta for nomear a contemporaneidade, melhor se falar em Idade Media Moderna, nomenclatura mais eficiente para este inicio de século XXI. E a educação sofre as influências de um tempo de trevas, mas com uma semente de esperança.
Educação é um processo que promove a conscientização das pessoas e, conseqüentemente, a sua mudança em relação ao mundo. Para tal conscientização acontecer, há um processo de ensino-aprendizagem, que acontece naturalmente durante a vida do individuo, e o ensino dirigido, tratado nas escolas, cursos, estágios, etc. A sociedade contemporânea ensina de um jeito, mas o professor deve ensinar de outro. Por quê?
O mundo ensina o tempo todo. A sociedade ensina e condiciona os indivíduos desde os processos mais amplos de organização social, como o sistema econômico (de exclusão ou inclusão social), o sistema de governo (democrático, teocrático, ditador, monárquico, anarquista), as relações raciais e sócio-culturais (racistas, nazistas, sionistas, tolerantes, patriarcais, matriarcais). Dependendo desse jogo social, educa-se um cidadão para que ache normal negros e mulheres terem subempregos, datas comemorativas específicas, poder econômico limitado, voz secundaria na opinião pública.
No caso especifico da educação brasileira, esta já está situada numa sociedade, no mínimo, hipócrita: machista nas relações de trabalho, mas nas relações familiares a figura masculina é coadjuvante. Legalmente, é constitucional, democrática, presidencialista, com voto direto, livre e secreto, mas a liberdade de manipular os votos através de uma imprensa parcial e interesseira e de leis de barreira que anulam partidos “pequenos” não dão liberdade ao povo, ao contrário, o voto obrigatório nestas condições é um atentado à liberdade.
Na contemporaneidade, outra chaga: a mídia. Acessível a quase todo mundo, não só repete este modelo degradado, como dita as relações familiares, o comportamento social, o relacionamento consigo mesmo. Assina embaixo de todos os preconceitos e desmoraliza a educação. Ninguém alcançou a fama até hoje pelo desempenho na escola, pela superação da exclusão através da educação, mesmo com muitos exemplos na vida real. A mídia é preconceituosa e, através de suas produções medíocres, trata de temas polêmicos com irresponsabilidade, leviandade. Atualmente, chegou a nível tão baixo, que faz abertamente propaganda do turismo sexual brasileiro. Tudo forma de degradar uma sociedade fragilizada pela pobreza e pela desigualdade.
Só para finalizar (a pior mazela de qualquer sociedade), as diferenças sociais estão alarmantes. As desculpas esfarrapadas para a manutenção da ordem feudal eram bem mais românticas e toleráveis do que a justificativa abertamente lucrativa que temos hoje.
Neste contexto social caótico, o professor tem duas, e apenas duas, posturas: ou corrobora com esta ordem social, ou a subverte. Não adotar uma delas é, necessariamente, adotar a outra.
É necessário transpor a sua função meramente específica (lecionar português, matemática, física, história...) para conscientizar seus discípulos sobre as relações que os cercam. E mais ainda, ter a responsabilidade de justificar a matéria que ministra como meio de vencer tabus sociais e paradigmas arcaicos. O professor de Português tem dois instrumentos poderosíssimos nas mãos: a língua e a literatura. Especificar o que cada uma pode trazer ao aluno (principalmente ao excluído) como forma de crescimento individual e poder social, é função inerente ao professor de português e línguas estrangeiras.
A língua portuguesa, no Brasil, é oficial, reconhecida em lei. Um grupo da elite intelectual brasileira se reúne para conspirar e definir como deve ser a língua oficial, a língua que vale, a língua certa. Forma de homogeneizar a língua, trazer a unidade nacional? Não da forma que é imposta. É um instrumento de exclusão social, uma violência às variantes, um desrespeito à variedade étnica, à extensão gigantesca do país. Porém, conhecer as armas do opressor é fundamental. Dar a conhecer a língua normatizada, sem desfavorecer ou deixar de trabalhar a variante do aluno, é dar condições de o aluno combatê-la.
A literatura é um caminho, uma saída, é o contato com a arte que necessita de mais dedicação para ser decifrada, é a melhor arte para conhecer o mundo, a si mesmo e aos outros. É proporcionar ao aluno a emoção, o sentimento, a sensação. Literatura é sabedoria, intertexto e liberdade. É um mundo paralelo que entra no mundo pseudo-real em que se vive. É, talvez, o único mundo real. Proporcionar a leitura é estimular o pensamento, a subjetividade, a criação de significado para o mundo. É a única medida eficaz na aprendizagem da língua. Negar a leitura aos alunos é a atitude mais reacionária e cruel que um professor de línguas pode tomar.
Mostrar, através da conscientização dos mecanismos sociais e de exclusão que vivem os alunos, que a educação é uma arma, é ser franco com os cidadãos que estão nas salas de aula, tão carentes de respeito e de esperança e é um dever do professor, uma vez que é, também, um cidadão oprimido."
Meu cargo na UNESCO eu assumo quando?
Tá bom, não é pra tanto. Nem concordo mais com algumas coisas que escrevi. Tem trechos que acho irritantes. Mas acho que ele merece ser publicado, nem que seja por vaidade.
Só uma coisinha a mais: um dos quesitos avaliados pelo MEC para certificar como a melhor do estado a faculdade de letras da UFPel é a infraestrutura. Gostaria de ver como isso foi avaliado. A faculdade funciona em vários prédios, muitos alugados a preços estratosféricos, em outras instituições de ensino e até, pasmem, em cima de um estádio de futebol. Será que houve alguma manipulação nessa informação? Nunca sabíamos direito onde seria a aula. E o prédio da faculdade, além de muito pequeno, era na avenida Bento Gonçalves, a mais movimentada de Pelotas. Era um caos. Será que contaram ao MEC que a faculdade de Letras NÃO TEM BIBLIOTECA?
Adoro minha faculdade, mas não posso fechar os olhos para esse resultado suspeito.