sábado, 21 de novembro de 2009

Wood e Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Rol; Narradores de Javé; Saneamento Básico

Assistam a " Wood e Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll" (2006) É uma animação da Otto Desenhos Animados Ltda, com direção do Otto Guerra, baseado nos quadrinhos de Angeli. Não dá pra ficar impassível. A história dos velhos hippies no mundo capitalista e sem ideais, onde os valores de paz e amor e da vagabundagem ilimitada e sem culpa já não têm espaço. Enxerguei muitos desejos reprimidos em mim e em muitas pessoas nas atitudes da dupla hippie e em personagens femininas, como a Sra. Wood (Lady Jane) e Rebordosa. Essa última, então, impossível., ideal da minha existência, por não estar nem aí pra ninguém. Como eu queria não pensar nos outros. E viver de brisa. E viver a vida (nenhuma relação com Manuel Carlos, aquele limitado).
Assistam a "Narradores de Javé" (2003), com direção de Eliane Caffé, filme brasileiro que conta o contar das histórias do povo de Javé, pequeno povoado ameaçado por uma inundação. Um filme que mostra a pobreza sem mostrar a miséria, com uma discussão muito interessante sobre o fazer literário, num texto ágil, engraçado e cheio de expressões regionais.
Lembra outro: "Saneamento Básico", de Jorge Furtado. Ambos mostram comunidades do interior do Brasil unidas para o bem comum.
Vale a pena olhar os três e desistir de pegar Anjos e Demônios, dando uma força para o cinema nacional e para seu intelecto.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Infância anos 80 e 90

Como somos saudosistas! Vivemos na ilusão de que a nossa infãncia foi boa, que os anos 80 e 90 foram os melhores até mesmo em matéria de, pasmem, música! Até pouco tempo atrás eu "pensava" assim. Pense bem, você que tem entre 35-20 anos.Tínhamos uma manhã inteira de alienação televisiva nos programas infantis.
Olhávamos a Xuxa. Ela nos dizia como tínhamos que ser: ultra-magras, estar na moda, ser ricas e compar os brinquedos da sua marca. E a partição menino CONTRA menina? Pra falar o mínimo da messalina do satã.
O que era o Sérgio Mallandro? Um imbecil se passando por louco (só se passando) e apresentando um programa de quinta onde a principal atração era a gritaria. E goela pra que te quero!!! No fim, abria-se a porta dos desesperados (paródia de outro programa que nos comovia e fazia saltar nas noites de domingo)e uma pobre criança tinha seu sonho de ganhar uma bicicleta depedaçado por um monstro que a assustava. Meu Deus, onde estava o Conselho Tutelar? Os direitos humanos? A Polícia Federal? O ECA? Ou mesmo o PETA?
No gênero clássico-branco-judaico-cristão-ocidental-sem-sal, tínhamos a Angélica. A Sra. Luciano Huk é o supra-sumo da antipatia, da falta de talento e da vulgaridade de linguagem(no sentido de popularesco e cheio de vícios das telenovelas) Ninguém na televisão brasileira tem até hoje, uma linguagem menos própria do que a musa dos taxistas. É um misto de texto do Manoel Carlos com Zorra Total. O Luciano já disse que ela olha TV 24 horas por dia. Tá comprovado que faz mal, ela é a tese ambulante disso. E quem lembra dela tendo nojo da plateia de infantes no programa da Angélica e depois, no pastelão Video Game?
E a Mara, hein? No meio de louras aguadas a morena arrebatava multidões... de marmanjos. Mostrou a Maravilha na revista, em plena carreira como apresentadora infantil, apresentava um programa clichê, era a mais "povão" delas, teve aquela trajetória esperada de toda celebridade instantânea: fama, glamour, decadência, drogas, álcool, casamentos, igreja evangélica e conversão. Amém.
Eliana parece a única a ter dado mais certo profissionalmente. Era (e é) a mais bonita de todas, simpática e autêntica até o ponto em que dá pra ter autenticidade nessa pofissão, ou seja, 2, numa escala de 0 a 10.
Todo o mundo acha a sua época infantil a melhor simplesmente porque o seu interior estava melhor. A época não importa, o exterior não importa, o que importa é como está o interior da criatura. Há publicações (e eu vou achar pra postar aqui) de desenhos e outras manifestações de crianças dos campos de concentração nazistas (as que sobraram por engano)que mostram uma infãncia feliz. E você, já superou o trauma de não ter tido um autorama?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Desafio do LIXO ZERO

Darei meu relato e lançarei um desafio a mim mesma.
Eu separo o meu lixo, seco/reciclável, orgânico e sujo. O orgãnico é aproveitado na recuperação da terra produtiva do pátio(sim, MST aqui não entra! é só olhar a quantidade de tempero verde que tenho), o reciclável é recolhido pela coleta seletiva (que na minha cidade se chama Coleta Solidária) e o sujo, infelizmente, vai ser minha (des)contribuição pro futuro. Minha mãe teve um momento de reflexão(não são raros, a véia é danada!) e se deu conta que devemos melhorar muito a seleção do lixo em casa, que é possível ter mais cuidado com o que se põe fora. E agora esse é um dos nossos objetivos:"LIXO ZERO" A estratégia é diminuir cada vez mais o lixo sujo e aumentar o orgãnico e o seco, aumentar, claro, pela maior criterização, não pelo aumento no consumo, que aí não vale. O próximo passo é a gente ter uma conversa séria sobre o material que está indo para o lixo e começarmos a ficar seletivos quanto ao quê comprar. Por obra do destino, a melhor embalagem é a lata de alumínio, da qual se aproveita tudo. Portanto, a cerveja tá liberada agora! Hic!
Ainda assim é preciso fazer uma pesquisa sobre os materiais (embalagens) que devemos passar longe e as (outras) que são melhores pra reciclar. Será que conseguiremos?
Depois vem o Obama e leva o meu Prêmio Nobel. Injustiças, até eu sou vítima.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A relativização das coisas

Acabo de me juntar a turma de John Locke. EStudando para fazer meu pré-projeto de mestrado, dei-me conta de que o empirismo é uma boa. SImples assim? Quem dera.
John Locke teve a chance de expor suas ideias sem ser queimado vivo. Nasceu em 1632 na Inglaterra e defendia o liberalismo. EI, calma aí, isso não é tão ruim, não pra época. Ser liberal era defender a liberdade, especialmente a religiosa. E pensando sobre esse filósofo é que caiu a ficha. A razão deve estar na base do pensamento, deve ser o princípio a ser seguido, mas não deve se sobrepor ao empirismo. Entre outras coisas, podemos associar essa ideia à relatividade das coisas. Por quẽ?
Pra começar, partimos do conceito de bom. Isso é mais ou menos universal. Sabemos que sentir dor é uma coisa ruim. Um pai sabe disso e, usando a razão, quando o filho temia, não lhe dá uma palmada, um beliscãozinho. Porém, ele percebe que o filho tem seu comportamento piorado. Toda a vez que teima, recebe o que quer e se torna um manipulador. O pai muda de estratégia e passa a dar uns tapas na bunda do capetinha. Pronto, o guri começa a ter um comportamento mais "adequado". . Felizes para sempre? Não, isso não é conto das "Mil e uma noites" nem contos da Condessa de Sègur. Não existe verdade absoluta. Caimos no relativismo. Essa psicologia havaiana (não conhecem? quando a criança teima, pegue uma sandália havaianas...) até tem fundamento... lá na Idade Média. De novo, relativizamos. Um cidadão "forte" que fosse acostumado a pancadas e se adaptasse a não questionar, é o ideal medieval. Mas no século XXI não. Experimente tratar um filho a pancadas. Além das leis que não permitem, terás um cidadão indesejável.
Enfim, tudo deve estar subordinado ao empirismo, à experiência, à prática. A razão deve ser o princípio, pra evitarmos relativizações ainda maiores.
Mas nada é absoluto. Pense melhor. Um indivíduo dependente químico. Já tá naquela fase de roubar pra usar e de bater na mãe pra tirar dinheiro da véia. É internado 15 vezes nas melhores clínicas, que usam os métodos mais modenos e infalíveis. Nada dá resultado. Um dia, entra numa Igreja Evangélica e sai totalmente convencido a mudar. Nunca mais se droga e vira um bom cidadão. E aí, a razão não explica.
AH, agora esse mesmo cara vende as coisas de dentro de casa pra dar pra Igreja. Mas isso é outra história.
Nas leis, essa regra do empirismo deveria ser usada (imagina que farra!). As leis existem pra serem cumpridas. Mas quando estão trazendo mais entraves burrocráticos do que proteção ao cidadão, deveriam ser relativizadas. O problema é que a sociedade ainda não está num estágio que mereça ter justiça. Ou está?
Essa p*&%&*$## da relativização me deixa confusa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mais uma sobre (des)educação

A Rede Bobo apresentou (dia 08/10/09) uma reportagem sobre as universidades inglesas, que usam uma prova parecida com o Enem como medidor de aspirante a universitário. Pois bem, um rapaz brazuca concorria a uma vaga na Universidade de Londres e foi mostrado como exemplo de estudante, pois gabaritou duas provas das cinco de ciências exatas que fez. Hum, hum. E o menino prodígio verde-amarelo deu uma declaração genial, elevou o nome da Nação e está fulgurando entre os grandes nomes da filosofia ocidental, ele "deu a dica para quem quer passar no Enem e garantir uma vaga na Universidade" e aí vem a pérola "Para se dar bem na prova (expectativa, corações a mil) não dá pra errar muitas questões". Soem as trombetas do apocalipse.
Todo esse teatro é pra falar aquilo que já estou me convencendo: colégio só serve pra ensinar o básico pra entrar na boca do tubarão e arranjar um empreguinho, ficar escravo dele e enriquecer algum capitalista. Pra formar "um cidadão consciente de sua cidadania, com capacidade de pensamento crítico e de agir sobre a sociedade", ah, isso é muito fora da realidade. Nossa e da Inglaterra.
Mas não fica bem uma professora pensar assim ou falar tais coisas.

domingo, 4 de outubro de 2009

A segunda da noite

Me sinto desamparada em meio a tantos blogs que amam Lula. Eu gosto do presidente, mas ele está longe de ser essa maravilha toda. Ele fecha os olhos pra corrupção, está entregando a Amazônia Legal, entre outras insanidades. Quando ele se elegeu em 2002, disse que pensou em Chico Mendes. Ora, Lula não dá a mínima pro meio ambiente, prova disso é que Marina Silva largou a pasta do meio ambiente e saiu do PT. Eu não entendo lá muito de política, mas burra não sou. Mas quem é que está fechando os olhos pro jeito conservador do Lula governar? Lula não é, como ele mesmo disse, de esquerda. Ele mesmo (em reportagem que ainda vou achar pra linkar aqui) disse "nunca fui de esquerda". Então tá, boba sou eu aqui, acreditando no futuro que Lula nos daria (eu nasci nos anos 80, po!). Não dá pra ficar assinando embaixo de tudo o que o PT de Zé Dirceu faz.Gosto do Lula mais pelo que ele representa do que pelo que ele é. E me sinto só. Desde o site Vermelho que é do PCdoB, só loas ao Lula. Ainda vou enumerar tudo que foi feito nesse governo que mostra seu jeito conservador e reacionário e cobrar destes sites e blogueiros. Não estar ao lado do Lula não quer dizer estar do lado do Serra. Estou mais pra Heloísa Helena, já votei nela em primeiro turno na eleição passada. Se a esquerda brasileira é este povo do PT que tá aí, não temos mais esquerda, ou esta já se perdeu tanto que não consegue enxergar isso. Eu acho tão classe-mérdia esse negócio de olimpíadas. O que isso quer dizer, afinal? Eu gosto de esporte, isso sim. Mas e o que está por trás disso tudo?
Pra acabar, agora que eu estou dando duas por noite, convido a todos os cidadãos brasileiros a conhecerem o meu estado, o famoso Rio Grande do Sul. Na Globo não passa, o Jornal Nacional só deu um ou dois toques rápidos, mas há uma CPI das brabas rolando por aqui, que,como todos sabem, não acabará em pizza, mas em arroz a carreteiro. Só pra vocês, leitores de fora do estado, enxergarem a ponta do iceberg, digo que GOVERNADORA ESTÁ PROCESSANDO JUDICIALMENTE SEU VICE. Creiam, é verdade. E foi ele quem denunciou a merda toda. Mas permanece no cargo, se afundando solidariamente com a carrasca dos professores. Na falta de comparação melhor, é como se Batman processasse Robin.Olha isso.

Olimpíadas 2016, a cultura brasileira faz a festa já começando pela mascote

Olimpíadas 2016, Rio é a bola da vez. Festejam muito os esportistas, principalmente os profissionais, por motivos óbvios. Festejam os amadores, por puro espírito olímpico. Festeja Lula e sua turma porque nenhum palanque será melhor do que a arena olímpica. Em 2014, teremos eleições presidenciais, dois anos antes do maior evento esportivo do planeta. Será lembrado aquele que chorou no dia do anúncio do Rio. E Dilma, se for a presidenta, vai botar o Lula de novo na parada, lembrar que em dois anos merecerá estar na presidência aquele que trouxe as olimpíadas para o Brasil, se ele ainda estiver com bala n'agulha pra concorrer ou pior, tratar essa olimpíada como mérito seu e de todo o PT (todo o petista), o que não é verdade. Vai assustar o povo, falar que um oposicionista poderá prejudicar as olimpíadas com o propósito de prejudicar o PT. Pode ser que seja por aí sua reeleição ou reeleição do partido. Pode ser que nada disso aconteça. Comemoram os empreiteiros do país inteiro, especialmente os do Rio, claro. E, por consequencia, comemoram os políticos de alguma forma ligados a eles. Lula está colecionando cartas na manga (daqui a pouco vai faltar manga):bolsa-família, jogos panamericanos, pré-sal, olimpíadas. Mas tudo isso é requentado. O mais interessante de hoje foi o mascote que Ziraldo sugeriu para a olimpiada. O leitor encontrará notícias de que o pai do menino maluquinho criou uma menina. Mentira. Criou uma mulher, aliás, muito gostosona com um bundão imenso e de biquini sumário. Ah, esqueci de dizer: comemoram as prostitutas, cafetões, agências e demais instituições da cultura brasileira ligadas ao turismo sexual.
Ufa. Eu já fui mais ufanista.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Noel Rosa, criador da Mulher Indigesta

Sobre Noel Rosa, a quem o nome deste blog é homenageia, contam um causo bem engraçado. Dizem que um amigo o encontrou às 7 da manhã sentado a uma mesa de bar com uma copo de cerveja e outro de conhaque sobre a mesa. Indignado, o bom amigo recomendou que Noel, tuberculoso e frágil, se alimentasse bem, principalmente de manhã, para ter melhor saúde. Ora, muito inteligente, Noel o convenceu que um copo de cerveja tem os mesmos nutrientes de um prato de arroz e feijão. ‘Sim, mas e por que o conhaque?”, pergunta o inocente amigo “È que eu não consigo comer sem beber”, responde o mestre.

domingo, 27 de setembro de 2009

Colcha de retalhos

Preciso atualizar as postagens mais amiúde. É muita coisa pra falar, como se não bastasse minha verborragia. Cada causo é um causo, e vamos tratar deles de forma separada.
Causo 1 - Professora malvada que obrigou rapaz a pintar uma parede.
Era bem bom se esse moleque já começasse a pintar umas casas pro Natal, e levasse algum pra casa. Meu pai, na idade dele, era servente de pedreiro e trabalhava das 7 às 18 virando massa e carregando pedra. "Quero ser o primeiro a riscar a parede", disse o moleque antes de vandalizar a sala. Ou seja, tinha intenção do fato. Não foi ao mutirão de pintura da escola. Graforréia Xilarmônica nele "bota o guri no colégio interno". Aqui em casa, quem suja, limpa. Por que na escola seria diferente?
Causo 2 - escolas indígenas - taí meu ideal de escola. Sempre achei que prender crianças e adolescentes dentro de 4 paredes e os manter lá, como molas encolhidas, loucos pra sair (olha o corre-corre na saída)é uma espécie bem requintada de tortura. Uma coisa (escola) pensada por adultos não pode atender plenamente a necessidade de uma criança. Cheguei a desacreditar a minha profissão,embora soubesse que se eles não estiverem nas salas de aula, estariam nas bocas de fumo (ainda se usa essa expressão?), e que, portanto, a escola era uma alternativa "menos pior". A escola indígena não respeita só a sua cultura, mas a cultura de todas as crianças. Lá, não é obrigatório ficar na sala de aula e quem não acompanha tão bem as aulas (os burros, no meu tempo cruel), é tratado como igual pelos outros e professores. Do conteúdo ao material didático, tudo baseado na prática e contextualizado à sociedade indígena. Aposto como eles não aprendem Revolução Francesa (eu tenho uma implicãncia com essa Revolução francesa que nem queiram saber). Os professores são quem eles já respeitam naturalmente. Duvido uma cadeirada na cabeça do professor. Ah, duvido.
Olha aqui.
Causo 3 - Pré-sal - O dinheiro do pré-sal vai ser todo pra educação, ciência e cultura? Quero ver se o salário dos professores vai aumentar. Assim como quando o Brasil se tornou auto-sustentável em petróleo e o gás GLP e os combustíveis aumentaram de preço. Qual é a graça, então?
Causo 4 - Yeda Crusius - Afinal, sai ou não sai? Se sair, fica Feijó? Se cassada a candidatura, entra o Tarso? Ou é mais vantagem agora ela ficar apanhando até as eleições de 2010, pra evitar perdas políticas e gastos com orçamento gaúcho e tomar uma lavada no pleito?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Lhama não existe, morcego não é mamífero

Olhem só. Essa semana estou dedicada a homenagear as intituições de minha educação formal. Então, vou contar uma historinha sobre minha primeira série, seguida de uma historinha da minha terceira série.
Na primeira série eu estava com uma bolsa de estudo numa escola de confissão católica. Era a mais pobrezinha das crianças da escola inteira. Isso me incomodava um pouco, mas como quando a gente é criança o que importa é ser feliz, não chegava a ser um pesadelo. Porém, essa bolsa foi concedida para mim mediante um teste. Fiz vestibulinho pra entrar naquele colégio. Passei com nota dez! Sim, havia isso também, ou vocês acham que filho de pobre estudaria na única escola particular da cidade se tivesse educação de pobre? Educação de pobre significava não ter dinheiro pra cursar o pré ou frequentar escolinhas infantis e ter uma família com poucos recursos pedagógicos. Mas, felizmente (ou não),minha mãe conseguiu me dar um incentivo bom nessa história de aprendizado. Enfim, passei com louvor e ingressei aos 6 anos na primeira série. No meio do ano, aprendi (de mentirinha porque eu já sabia muito bem) o "lh". A professora de então pediu palavras com lh. Lá foi a linda menina loira e de olhos azuis escrever a única palavra que conhecia começando com lh: lhama. Pronto. Bastou para que eu descobrisse que a professora sabia menos que eu. Juro. Ela disse que lhama não existia. É um bicho, tia. Não, não tenta me enganar, não existe essa palavra. Sentei desolada na minha carteira, pela primeira vez, tendo de repetir o exercício. Cheguei em casa e conferi num livro de geografia: lhama, animal que vive na américa do sul e central. Parece um dromedariozinho.
Mas o pior está por vir. Na terceira série o contexto era outro. Perdi minha bolsa na escola e não conseguia vaga em lugar nenhum. Lembro das mães passando a madrugada nas filas pra conseguir vaga nas escolas públicas, caso contrário, a gente perdia o ano! Minha pobre mãe consegui uma vaga na periferia. Um colégio municipal esquecido por tudo e todos. Ninguém sabe o que eu passei no meio ano que estudei lá. Que horror. Mas o pior era a professora. Pra encurtar a história, citei, durante um exercício de ciências, o morcego como mamífero. Sim, engulam essa. A sábia mestra riu e corrigiu essa que naquela época era uma menina indigesta, quase uma azeitona com caroço. Fiquei fula. Eu era persegida pra c$%$&¨naquela escola, todo o mundo esperava um escorregão meu. Tinha 8 anos e sabia mais que a grande mestra. Não saber àquela altura da vida que morcego é mamífero me choca ainda hoje.
Mas, no meio do ano, fui transferida para uma escolinha muito simpática, pertinho de casa. Pública, é claro. Estadual. Lá a coisa funcionava melhor. Minha prof era muito boa. Mas a explicação sobre o comunismo merece um post a parte.
Nem na melhor escola da cidade, nem na pior, havia gente boa o suficiente pra poder avaliar esta que vos posta. Afff
Tá bom, bem menos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Homenagem a faculdade de Letras (e obstetrícia)* da UFPEL

*Letras e obstetrícia porque lá, tudo era um parto
Olha o que eu escrevi há um tempo atrás,quando estava no 6º semestre da faculdade de Letras da UFPel. Aliás, uma das melhores do Brasil. Fiquei feliz ao ver essa notícia, quentinha, saída do site (clique aqui)
Não fiz Enade, fui dispensada porque me formei em agosto. Em homenagem a minha faculdade, vai o meu texto.


Sistema socioeconômico contemporâneo e a educação das massas ludibriadas

Mulher Indigesta


"Se pós-modernidade quer dizer um estágio à frente da modernidade, não se pode cogitar escrever qualquer coisa que não seja profecia. A pós-modernidade ainda não chegou. Mas, se a proposta for nomear a contemporaneidade, melhor se falar em Idade Media Moderna, nomenclatura mais eficiente para este inicio de século XXI. E a educação sofre as influências de um tempo de trevas, mas com uma semente de esperança.
Educação é um processo que promove a conscientização das pessoas e, conseqüentemente, a sua mudança em relação ao mundo. Para tal conscientização acontecer, há um processo de ensino-aprendizagem, que acontece naturalmente durante a vida do individuo, e o ensino dirigido, tratado nas escolas, cursos, estágios, etc. A sociedade contemporânea ensina de um jeito, mas o professor deve ensinar de outro. Por quê?
O mundo ensina o tempo todo. A sociedade ensina e condiciona os indivíduos desde os processos mais amplos de organização social, como o sistema econômico (de exclusão ou inclusão social), o sistema de governo (democrático, teocrático, ditador, monárquico, anarquista), as relações raciais e sócio-culturais (racistas, nazistas, sionistas, tolerantes, patriarcais, matriarcais). Dependendo desse jogo social, educa-se um cidadão para que ache normal negros e mulheres terem subempregos, datas comemorativas específicas, poder econômico limitado, voz secundaria na opinião pública.
No caso especifico da educação brasileira, esta já está situada numa sociedade, no mínimo, hipócrita: machista nas relações de trabalho, mas nas relações familiares a figura masculina é coadjuvante. Legalmente, é constitucional, democrática, presidencialista, com voto direto, livre e secreto, mas a liberdade de manipular os votos através de uma imprensa parcial e interesseira e de leis de barreira que anulam partidos “pequenos” não dão liberdade ao povo, ao contrário, o voto obrigatório nestas condições é um atentado à liberdade.
Na contemporaneidade, outra chaga: a mídia. Acessível a quase todo mundo, não só repete este modelo degradado, como dita as relações familiares, o comportamento social, o relacionamento consigo mesmo. Assina embaixo de todos os preconceitos e desmoraliza a educação. Ninguém alcançou a fama até hoje pelo desempenho na escola, pela superação da exclusão através da educação, mesmo com muitos exemplos na vida real. A mídia é preconceituosa e, através de suas produções medíocres, trata de temas polêmicos com irresponsabilidade, leviandade. Atualmente, chegou a nível tão baixo, que faz abertamente propaganda do turismo sexual brasileiro. Tudo forma de degradar uma sociedade fragilizada pela pobreza e pela desigualdade.
Só para finalizar (a pior mazela de qualquer sociedade), as diferenças sociais estão alarmantes. As desculpas esfarrapadas para a manutenção da ordem feudal eram bem mais românticas e toleráveis do que a justificativa abertamente lucrativa que temos hoje.
Neste contexto social caótico, o professor tem duas, e apenas duas, posturas: ou corrobora com esta ordem social, ou a subverte. Não adotar uma delas é, necessariamente, adotar a outra.
É necessário transpor a sua função meramente específica (lecionar português, matemática, física, história...) para conscientizar seus discípulos sobre as relações que os cercam. E mais ainda, ter a responsabilidade de justificar a matéria que ministra como meio de vencer tabus sociais e paradigmas arcaicos. O professor de Português tem dois instrumentos poderosíssimos nas mãos: a língua e a literatura. Especificar o que cada uma pode trazer ao aluno (principalmente ao excluído) como forma de crescimento individual e poder social, é função inerente ao professor de português e línguas estrangeiras.
A língua portuguesa, no Brasil, é oficial, reconhecida em lei. Um grupo da elite intelectual brasileira se reúne para conspirar e definir como deve ser a língua oficial, a língua que vale, a língua certa. Forma de homogeneizar a língua, trazer a unidade nacional? Não da forma que é imposta. É um instrumento de exclusão social, uma violência às variantes, um desrespeito à variedade étnica, à extensão gigantesca do país. Porém, conhecer as armas do opressor é fundamental. Dar a conhecer a língua normatizada, sem desfavorecer ou deixar de trabalhar a variante do aluno, é dar condições de o aluno combatê-la.
A literatura é um caminho, uma saída, é o contato com a arte que necessita de mais dedicação para ser decifrada, é a melhor arte para conhecer o mundo, a si mesmo e aos outros. É proporcionar ao aluno a emoção, o sentimento, a sensação. Literatura é sabedoria, intertexto e liberdade. É um mundo paralelo que entra no mundo pseudo-real em que se vive. É, talvez, o único mundo real. Proporcionar a leitura é estimular o pensamento, a subjetividade, a criação de significado para o mundo. É a única medida eficaz na aprendizagem da língua. Negar a leitura aos alunos é a atitude mais reacionária e cruel que um professor de línguas pode tomar.
Mostrar, através da conscientização dos mecanismos sociais e de exclusão que vivem os alunos, que a educação é uma arma, é ser franco com os cidadãos que estão nas salas de aula, tão carentes de respeito e de esperança e é um dever do professor, uma vez que é, também, um cidadão oprimido."
Meu cargo na UNESCO eu assumo quando?
Tá bom, não é pra tanto. Nem concordo mais com algumas coisas que escrevi. Tem trechos que acho irritantes. Mas acho que ele merece ser publicado, nem que seja por vaidade.
Só uma coisinha a mais: um dos quesitos avaliados pelo MEC para certificar como a melhor do estado a faculdade de letras da UFPel é a infraestrutura. Gostaria de ver como isso foi avaliado. A faculdade funciona em vários prédios, muitos alugados a preços estratosféricos, em outras instituições de ensino e até, pasmem, em cima de um estádio de futebol. Será que houve alguma manipulação nessa informação? Nunca sabíamos direito onde seria a aula. E o prédio da faculdade, além de muito pequeno, era na avenida Bento Gonçalves, a mais movimentada de Pelotas. Era um caos. Será que contaram ao MEC que a faculdade de Letras NÃO TEM BIBLIOTECA?
Adoro minha faculdade, mas não posso fechar os olhos para esse resultado suspeito.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Na Rota dos Orixás

Hoje assisti novamente ao documentário Na Rota dos Orixás, de Renato Barbieri, disponível no youtube. Ninguém é o mesmo depois de passar por essa experiência. Aproveite a vida e desfrute da tecnologia, vai lá, olha também. Se preferir, também tem o vídeo da final de A Fazenda. Cada um sabe de si e da sua construção intelectual.
Imagine saber que no dia do seu aniversário tem alguém no outro lado do oceano que canta parabéns. É assim que sinto. Do outro lado do Atlântico tem um povo incrível que preserva as tradições brasileiras como o carnaval, o bumba-meu-boi (embora com outro nome), a festa do Senhor do Bonfim conforme calendário da Bahia, se autodenomina brasileiro e a gente nem sabe dessa homenagem. São os agudás, ex-escravos africanos que retornam a África depois de abolidos. Nunca se viu a África como ela é mostrada nesse documentário, que se passa em Benin e na Nigéria e mostra a troca de culturas entre os dois povos. Sabemos alguma coisa da cultura africana influenciando aqui, mas o contrário, muito pouco. Que África bonita que mostraram. Chega de África como sinônimo de miséria e guerras. Ninguém vai respeitá-la enquanto não conhecê-la. Tudo incrível!
Uma senhora (antropóloga, se não me engano) diz algo que se deve pensar: não se deve ver a escravidão dos africanos somente como uma coisa ruim. Se permitiu a união dos povos africanos e americanos, o Atlântico não serviu só para separar esses continentes, mas para uní-los. Parece que o temor de uma interpretação racista ou escravagista desse ponto de vista desperdiça-o. É possível sim, fazer essa leitura, desde que não de forma romântica ou alienada.
Mas, pra ser um pouquinho clichê, não se culpe (ou se culpe, enfim) de não saber onde fica Benin no mapa. Nas aulas de Geografia e História, nunca ouvi falar desse paizinho espremidinho entre Togo, Nigéria, Burkina-Faso e Niger, com uma pequena costa no Atlântico. Com lutas tribais, que teve um reino poderosíssimo, o Fon de Daomé e que na época do mercado escravo povoou o Brasil, não recebendo deste mais do que relho e trabalho, mas que voltou pra Benin levando o que o país tinha de bom . Estou muito gosmenta?
Não conhecemos as origens dos povos brasileiros. Fala-se em África como um grande país, em que tudo é igual e uniforme na sua pobreza. Eu me preocupo se os professores de Geografia e História, enfim, esse "guardiões dos estudos de identidade nacional" nunca falam disso. Aprendemos inutilidades, é só o que posso pensar.
E lamento que os afrodescendentes todos não possam conhecer essa história. Não basta colocar meio forçado um artigo sobre Zumbi no livro e achar que está valorizando a cultura africana. Mas quem vai ensinar isso? Melhor estudar a revolução francesa.

sábado, 15 de agosto de 2009

Edir Macedo, clarividência e picaretagem

Pasmem diante da minha clarividência. O texto a seguir, foi escrito há umas duas semanas para publicar no blog. Não é que o bolo fecal foi atirado no ventilador?

“Cada vez mais me convenço de que o Bispo fundador da Igreja Universal, um dos maiores empresários do Brasil, é o meu líder espiritual. Espírito num sentido restrito de conhecimentos e pontos de vista. Além da Record (aberta, news e rádio), o Bispo tem Correio do Povo, Guaíba (rádio e TV), além de outros que não acompanho. O problema é que se instala uma concorrência entre um homem que foi acusado de ser o maior 171 da fé (lembro de um vídeo em que ele aparecia na maior farra com os amigos num hotel de luxo, por conta dos fiéis, e que lhe rendeu uma imensa polêmica, depois ele pediu aos fiéis pra não assistirem TV dizendo que era coisa do diabo) e a emissora dos Marinho e Sirotsky (aqui no Sul). Quanto a estes, não preciso nem falar, todos conhecem a trajetória nebulosa da Grobo e o lixo de programação que tem a RBS. E aí eu penso: depois de tantos anos de manipulação pela Grobo/RBS, teremos um novo reinado de manipulação da Universal Empreendimentos? A resposta é: acho que sim.
Sei que essas empresas são compradas com o dinheiro dos fiéis e, a menos que Deus esteja passando o ponto da sua imobiliária divina para o Bispo, essa grana não está comprando nenhum terreno no Céu. Mas, o fato é que não percebo os valores da Igreja Universal permeando a programação da TV Record, nem os jornalistas da Guaíba levam jeito para missionários. Isso me faz pensar que o Bispo ou não está a fim de uma conversão em massa, ou não está nem aí pras empresas, para as quais ele garante o capital e recebe o lucro, mas quem manda é o jornalista mesmo, e diplomado! Se for assim, ponto pro Bispo.
Quando digo que não percebo os valores da Universal na programação, quero dizer que as empresas de comunicação de Edir não fogem dos assuntos menos “morais” e aí tem de tudo: desde um jornalismo mais científico (Record News é um bom exemplo) a baixarias do tipo do antigo programa do Márcio Garcia. Tudo tem um lado ruim.
Já me perdi tanto no assunto que nem sei por onde recomeçar. Ah, sim. Será que o Edir me manipula?
Não sei. Mas nos tempos atuais em que se usa da manipulação pela mídia (a Grobo perdeu a mão e tá no limite da doutrina neo-fascista) pra atingir um público grande e vender mais, as empresas de comunicação do grupo Record não estão enchendo a cabeça da gente. Ou será que eu estou enganada? Pelo menos nunca tive vontade de entrar numa igreja Universal. Se o Bispo quisesse, com a grana que tem, com o poderio que é um meio de comunicação e as técnicas de persuasão e mensagem subliminar, estava arrastando todos pra dentro das Universais da vida e enchendo ainda mais a burra de dinheiro. Acho que ainda tem algo de ético no Bispo.”
Depois dessa demonstração da minha mediunidade e poder parapsicológico, ofereço meus serviços: trago seu amor em 7 dias. Só cobro o preço das cordas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Os filhos dos outros

Quando eu era criança, mamãe dizia para eu não falar com pessoas estranhas na rua, nunca dar informações, como o meu nome, onde moro, onde trabalham meus pais ou se fico sozinha durante o dia (o que me acontece desde que tenho 9 anos)e sempre trancar a porta, sem jamais abrí-la para um desconhecido. Preciosas recomendações. Nunca fui atacada por nenhum pedófilo, ninguém assaltou minha casa, nem roubou a bolsa de cima do sofá. Porém, hoje os pais já não dão mais estes conselhos. Pelo menos nunca mais vi uma criança com essas recomendações. Amanhã mesmo puxo assunto com uma criança desconhecida, aposto todas as minhas fichas que ela me dá atenção e sai falando tudo que não deve.
Se na "vida real" o jogo é esse, na "vida virtual", então, nunca se jogou assim. Lembro de uma ex-parente que tinha uma sobrinha de 15 anos que ficou noiva pela internet: conheceu num dia, noivou no outro. E eu perguntei a minha ex-parente o que ela achava: "òtimo, melhor impossível, pela internet não tem perigo nenhum de nada acontecer, to muito aliviada com essa história". Acreditem, é verdade. E a mulher que diz isso era uma jovem e inteligente senhora. Parece que ainda não caiu a ficha dos pais da geração on-line. Só pra dar (mais)um exemplo, Danilo Gentilli, no CQC de 13 de julho acompanhou uma moça de 15 anos no MSN. É de cair o queixo! E muitos acham que não há perigo (olhe aqui). Pais também precisam de reciclagem. E nada daquilo de dizer que minha filha jamais tiraria a blusinha pra um desonhecido. Isso é virtualidade, a realidade é que qualquer menina cai na conversa de um FDP de um pedófilo, uma garotinha não tem condições de fugir das malhas da malícia de um homem mais velho, crápula e cafajeste. É melhor cairmos na real. E eu ainda nem sou mãe, pra quê mesmo to me preocupando com os filhos alheios?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Shakespeare, Tamiflu e Edir Macedo

Não gosto, em geral, de produções de TV. Olho, mas não gosto, como todo o mundo. Mas tenho de dar o braço a torcer quando o assunto é Som e Fúria. Fernando Meirelles (Cidade de Deus, Ensaio Sobre a Cegueira, O Jardineiro Fiel)é diretor dessa obra televisiva não-clichê. Destaque para a personagem de Regina Casé, impossível não associá-la a tantas pessoas "da vida real". E o personagem que imita/parodia/debocha de Gerald Thomas? Contudo, Som e Fúria não é pra iniciados, pode ser apreciado (que termo esnobe) pelo público leigo (putz, eu to muito TFP hoje). Nem precisa conhecer Shakespeare! Vale a pena olhar. Soube que é uma adaptação a uma minissérie canadense. Ponto de novo. Tanta coisa pra se copiar e pegam um troço de qualidade. Quem diria! E fazem uma recriação muito boa.
Por falar em TV, entrei na página do BOL e ali tinha as mesmas notícias que passaram na Record, inclusive com o clássico da demência televisiva "A Fazenda". Grupo Record comprou o BOL? Não é por nada, sou leitora do Correio e ouvinte da Guaíba, mas tenho medo da lavagem cerebral que, por ventura, o Bispo Edir possa nos fazer.
Adoro teorias da conspiração. Mas estou custando a crer que ninguém ainda tenha levantado a hipótese (quase certeza) de que o laboratório Roche criuou o Vírus A(H1N1) pra vender o Tamiflu. Curioso como já existia um (e só um) remédio que cura a pessoa dessa gripe. Eu acredito nessas coisas. Olha a correria atrás do antigripal. Sempre que tenho que mexer na minha carteira, acho que tem alguém conspirando.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A política é um caminhão carregado de paralelepípedo

Não sei se vale a pena fazer política de um jeito competente e honesto, sem a menor intenção de ganhar votos e dinheiro. Falo da política que se faz no dia-a-dia, com as pessoas da família e com os conhecidos. Logo vi que os políticos não fazem política m... nenhuma. Fazer política cansa, esgota e deixa uma sensação amarga de missão nunca cumprida. Nenhum político que tenha um sorriso estampado no rosto, faz política. Política estressa, deprime. Pode ser que não deprima na Suíça ou na França, com exceção da sua direita ultra-radical, mas neste país, a política é de arrasar. Acordos secretos não cansam, dólar na cueca até diverte. Quero ver encarar o povo e meter-lhe na cabeça qualquer consciência cívica (isso não é um termo da ditabranda?), de direitos e de justiça, explicar-lhe a consequência de seus atos nos outros,dos atos dos outros na sua vida, mostrar-lhe a incoerência das coisas e o entrave que é toda a sua superstição frente aos acontecimentos do mundo, enfiar-lhe nos cornos uma idéia de civilidade e sociedade. Fazer o povo pensar, eis o que é política. Não me fale em encontros com o partido para definir pré-candidatos. Isso é maçonaria. Falar para meus iguais coisas que eles estão cansados de saber. (Definirmos entre nós o que nos será conveniente) Política não se faz nas câmaras, nem nos gabinetes. A verdadeira política a gente faz primeiro na gente, depois nos outros, cara-a-cara. Ando esgotada, chateada e pensando em abandonar a política. Algum imbecil, provavelmente um ocupante de cargo eletivo, diria que eu não tenho vida política para abandonar. Quanto se enganaria tal imbecil.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Irmãos de vitiligo

Nada é mais como era antigamente. Que clichê. A morte do Michael me fez lembrar a morte do Senna. Eu tinha onze anos e foi uma semana terrível, luto, choro, nas escolas, na TV. E Michael Jackson não foi menos famoso nem menos importante na sua área do que o Senna. Aliás, Senna era um fenômeno brasileiro; Jackson, mundial. E pra fazer o "moon walk" não era preciso ter uma McLaren, o que confere um título de ídolo mais democrático ao músico. Mas a impressão que eu tenho é que, embora seja matéria em todos os jornais, diariamente, o ídolo não despertou tanta comoção. Eu imaginei que veria fãs chorando, artistas se desesperando... Nada disso. Além de Ingrid Guimarães, que disse que foi como se morresse Papai Noel, nenhum comentário que valesse a pena. Esse comentário, por sinal, ainda me faz chacoalhar de rir. A que se deve essa mudança de comportamento frente à morte do maior astro pop de todos os tempos (sim, alguém conheceu alguém mais famoso?)?
Será que os seres (des)humanos estão caindo na real(?): todos morrem. Ou estão mais egoístas: não muda nada na minha vida. Ou ainda estão mais espiritualizados e românticos: não choro porque ele não morrerá, pois deixará sempre a sua música e dança nos nossos corações. Sei lá.
Eu tenho uma mágoa com o Michael Jackson. Ele era um negro bonito e se tornou uma branquela feia. Mais uma. Ele era o maior astro do mundo, a desforra dos negros e, por consequencia, das minorias, mas preferiu virar branco(a). É como alguém que, ao ganhar muito dinheiro, a primeira coisa que faz é ficar mais bonita: faz lipo, bota botox, silicone, mega-hair. Como ser negro era um defeito físico, como uma gordura localizada, quis ficar branco pra ficar perfeito. Sei que ele era um cara cheio de problemas psicológicos (rico e famoso e não pegava mulher nenhuma, não usava drogas, não fumava, não bebia, não comia carne!)e essa questão de aparência é pura falta de auto-estima. Tinha pena dele.
Mas, como a gente fica procurando algo em comum com um famoso que morre, também eu me manifesto: eu tenho vitiligo, como ele. Claro, o meu é uma mancha de meio contímetro de diâmetro que há 15 anos não se manifesta, os dermatologistas nem me levam a sério quando digo que tenho medo de virar câncer. Pra mim, foi como se morresse um irmão de vitiligo.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cornetas

Olhei essa semana um jogo de futebol na TV direto da África do Sul. E que surpresa auditiva a tal da corneta! Achei que estavam transmitindo direto da caixa de abelhas do Mandela. Irritei-me no início, depois acostumei. E ouvi dizer que um jornalista sem amor à reputação pediu oficialmente a proibição desse instrumento nos estádios durante a Copa. Será que esse é um dos que não tem curso superior e exerce a profissão? Deve ser. Só um curioso para fazer uma dessas. O importante é que a imprensa massacrou o tal jornalista. Uma dúvida: apresentadores de TV (jornalismo, claro), são obrigatoriamente jornalistas? E o pessoal do tempo, é jornalista ou meteorologista? Se for jornalista, não sabe do que está falando quando fala de “área de convergência intertropical” (falsidade ideológica). Se for meteorologista, não pode apresentar um programa jornalístico (exercício irregular de profissão). E a Patrícia Poeta? Era do tempo, agora é apresentadora. É o supra-sumo da atividade indevida de alguma profissão: ou jornalista ou meteorologista. Contudo, já ouvi alguém falando: uma pessoa pode desempenhar bem um papel numa profissão (no caso, o jornalismo) e não ter diploma de faculdade. Eu concordo, todos concordamos. Mas dá pra imaginar os filhos e netos do Galvão Bueno ou da Márcia Goldsmitt pegando uma boquinha nas respectivas emissoras dos pais? E o cidadão que ralou os fundilhos numa cadeira universitária pra receber um diploma tendo de perder a vaga pra um cabeça de prego qualquer que tem um padrinho (ou pai, ou tio) na imprensa? Salvem a imprensa brasileira!Adiramos à campanha “Imprensa não é Senado!!!”

TOC - Mais uma manifestação

Há muito que digo que sou obssessiva-compulsiva. Mas as minhas obssessões e compulsões leves vão mais a atos repetitivos, como desfiar o cabelo quando tenhoa as mãos desocupadas, contrair os dedos, contar coisas, palavras,etc. A famosa angústia de falar ou escrever em público, não tenho! Orgulho de obssessivo-compulsivo é não ter síndrome do pânico. Mas descobri que morro de angústia, incômodo, uma sensação quase de revolta, ao tocar violão perto de alguém, especialmente alguém conhecido e da família! Com estranhos não tenho problemas, tô nem aí pra eles. Mas amigos e familiares próximos me deixam tão mal que chego a ficar agressiva. Sei que tocar um instrumento faz parte do mesmo processo que escrever e falar, afinal, é se manifestar, chamar a atenção, estar passível da avaliação dos outros. Mas como leitura assídua de textos sobre saúde mental não tinha visto especificamente o relato de "nervos à flor da pele" por causa de um instrumento musical. Deve ser porque quem manifesta esse pânico, simplesmente não toca mais violão, já que é um ato dispensável na vida de pessoas comunzinhas como eu. O que é uma pena, porque acalma, concentra, melhora raciocínio, tudo. Taí então, mais um relato para os psiquiatras de plantão. O importante é que eu não sou louca. Nem eu.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Lavoura Arcaica

Despretensiosamente, assisti ao filme Lavour'Arcaica , de Luiz Fernando Carvalho. Disponho-me a fazer uma pequena crítica, não do filme, nem do livro Lavoura Arcaica de Raduan Nassar, do qual foi adaptado (ou recriado), mas uma crítica sensorial, quase orgãnica, das duas obras, tão próximas pela narratividade e história e, contudo, tão impossivelmente comparáveis por pertencerem a "fazeres" diferentes da arte. Aqui, só coloco as palavras na sua lexicalidade mais singela, e não usarei, conforme possível, expressões acadêmicas. Não saberia fazer uma crítica cinematográfica ou literária, o que decepciona deveras tendo sido eu aluna do Professor João Manuel dos Santos Cunha. Sou apenas uma pessoa comum que sabe a diferença entre livro e película e lê com olhos de ler e assiste com olhos de assistir. Busca na obra que aprecia o que ela tem para oferecer e não se preocupa em estudá-la ou criticá-la quando a vê. Faço questão de ser assim. Teses, só para o mestrado, porque é obrigatório. A arte não é pra isso.
Sou aquele expectador que ainda não sabe direito se gostou ou não do que viu. O que fica na mente é aquela sensação de desconforto, de desequilíbrio, semelhante àquela sensação de ter chorado há poucas horas ou a ardência azeda que fica na língua após ter comido um doce. Uma lembrança já diferente daquela vivida no momento da emoção. Experimentoe suspirar fundo depois de chorar. O suspiro fica entrecortado. Os olhos ficam lavados, o ritmo cardíaco e a respiração diferentes. Depois de assistir ao Lavour'Arcaica, é assim que me sinto.Um não-sei-quê na memória, toda a hora me chamando a lembrar o que vi e ouvi. Uma certa tendência a repetir gestos e modos das personagens ou do narrador. As palavras que vêm ao pensamento e o ritmo dos pensamentos não são os nosso originais. Quem lê, sobretudo, cria novos engramas, quem não lê, pensa sempre pelo mesmo caminho. Quem olha Lavour'Arcaica pensa um pouco como Luiz, quem lê Lavoura Arcaica fica um pouco Raduan.
Poucas traduções de literatura para cinema agradariam tanto ao primitivo leitor, que procura no cinema o fiel desenrolar da sua história literária. Muito devido à primeira obra (o livro), ter sua dose de cinema, na construção de cenas, no enquadramento, na descrição da luz, nos cortes. E também, pelo cinema ter muito de literário. Quem não leu Lavoura, de Raduan, ainda não entrou no mundo onde nascem os pensamentos e em que os sentimentos pesam e tem cheiro. E se for pra falar na história, no enredo, é bom advertir que Raduan brinca na beira de um penhasco e espicha o pescoço pra olhar o precipício, aquela gelada vertigem. Preparem-se, leitores, para se sentirem perturbados e culpados por fazerem parte da história de Ana e André. E é bom que isso aconteça, pois a partir desse sentimento, junto com todo o magnífico restante, que deixará as suas línguas azedas e seus suspiros entrecortados.
Alguém ainda duvida de que sou verborrágica?

sábado, 6 de junho de 2009

Crise com vizinhança

Não é só Coreia do Sul e Coreia do Norte que se ameaçam e desentendem. Teve essa mulher indigesta e verborrágica seu dia de "mulher-do-povo" e entrou em conflito com o vizinho. O motivo: ele veio a minha residência, no horário de almoço, oferecer um cachorrinho recém-nascido. Como eu não quis, ele disse que iria matar a ninhada. Ogivas nucleares metafóricas a todo o vapor. Baterias anti-aéreas no vermelho, sirenes abertas. No relógio do fim-do-mundo, 1 segundo para a meia-noite. A comandante-em-chefe aqui deu o primeiro comunicado oficial: denunciaria quaqlquer ato de selvageria contra os filhotes, na delegacia, tipificado o leviano crime como "crime ambiental". O pérfido inimigo rebate que os mataria batendo seus crânios frágeis contra a parede, em evidente provocação. Segue meu aviso que isso seria levado à polícia, já com os meus grandes olhos verdes raiando vermelho. O terrorista diz que isso pra ele é prática comum. Pra não dizerem que eu não tentei um acordo de paz, disse que ele os criaria, até comerem, e então eu o ajudaria a levá-los a uma pet shop. Nada dissuadia as forças inimigas de seu nefasto plano. Então, essa comandante perde a linha e se porta como uma líder de uma milícia qualquer: diz que tem vontade de bater os crânios ocos dos seus filhos na parede, pois eles incomodam muito, são umas pragas, azucrinam. Ele ri. No fim das contas, a pedido meu, um senhor muito conceituado na vizinhança e protetor de animais se prontificou a vir e fazer a cabeça do inimigo do sul (sim, nessa brincadeirinha, prefiro ser a Coreia do Norte), a se render. Mereço ou não um Prêmio Nobel da Paz?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Primeira vez com Ronaldo Fenômeno

Minha primeira vez no bolg e eu já chego sentando o cacete no tal de Ronaldo Fenômeno, que é pra ninguém ter dúvida da minha indigestabilidade (????).
Ronaldo, ídolo das crianças. Esse fenômeno do mundo futebolístico e midiático, Ronaldo Nazário, disse que pretende educar o filho Ronald na Europa para mantê-lo longe da malandragem das crianças brasileiras!!! Seu pai, na certa por medo de o filho, que é seu arrimo, perder popularidade e patrocínios, imediatamente declarou que não concorda e que malandragem tem em todos os lugares do mundo. Calma, seu Nazário, porque ninguém na mídia, que vive às custas de seu rotundo filho, levou adiante seu comentário infeliz.
Quem até ontem se ofendia com que o chamasse de gordo, agora chama as nossas crianças de malandras e diz que não são dignas da amizade de seu filho. São maus exemplos, todas as crianças brasileiras. O resultado disso: na quarta-feira seguinte, os estádios coalhados de manifestações de apreço ao preconceituoso Nazário.
Também eu tenho vontade de ir pra Europa, pra não ver meus compatriotas, miseráveis e analfabetos idolatrando um sujeito que ofendeu seus filhos e que não está nem aí pra opinião pública. Ops! Esse é outro assunto. Mas cabe aqui dizer que esse é político e deve ser desmoralizado e aquele é um semi-deus, intocável, ídolo do esporte nacional! (???).