terça-feira, 30 de junho de 2009

Irmãos de vitiligo

Nada é mais como era antigamente. Que clichê. A morte do Michael me fez lembrar a morte do Senna. Eu tinha onze anos e foi uma semana terrível, luto, choro, nas escolas, na TV. E Michael Jackson não foi menos famoso nem menos importante na sua área do que o Senna. Aliás, Senna era um fenômeno brasileiro; Jackson, mundial. E pra fazer o "moon walk" não era preciso ter uma McLaren, o que confere um título de ídolo mais democrático ao músico. Mas a impressão que eu tenho é que, embora seja matéria em todos os jornais, diariamente, o ídolo não despertou tanta comoção. Eu imaginei que veria fãs chorando, artistas se desesperando... Nada disso. Além de Ingrid Guimarães, que disse que foi como se morresse Papai Noel, nenhum comentário que valesse a pena. Esse comentário, por sinal, ainda me faz chacoalhar de rir. A que se deve essa mudança de comportamento frente à morte do maior astro pop de todos os tempos (sim, alguém conheceu alguém mais famoso?)?
Será que os seres (des)humanos estão caindo na real(?): todos morrem. Ou estão mais egoístas: não muda nada na minha vida. Ou ainda estão mais espiritualizados e românticos: não choro porque ele não morrerá, pois deixará sempre a sua música e dança nos nossos corações. Sei lá.
Eu tenho uma mágoa com o Michael Jackson. Ele era um negro bonito e se tornou uma branquela feia. Mais uma. Ele era o maior astro do mundo, a desforra dos negros e, por consequencia, das minorias, mas preferiu virar branco(a). É como alguém que, ao ganhar muito dinheiro, a primeira coisa que faz é ficar mais bonita: faz lipo, bota botox, silicone, mega-hair. Como ser negro era um defeito físico, como uma gordura localizada, quis ficar branco pra ficar perfeito. Sei que ele era um cara cheio de problemas psicológicos (rico e famoso e não pegava mulher nenhuma, não usava drogas, não fumava, não bebia, não comia carne!)e essa questão de aparência é pura falta de auto-estima. Tinha pena dele.
Mas, como a gente fica procurando algo em comum com um famoso que morre, também eu me manifesto: eu tenho vitiligo, como ele. Claro, o meu é uma mancha de meio contímetro de diâmetro que há 15 anos não se manifesta, os dermatologistas nem me levam a sério quando digo que tenho medo de virar câncer. Pra mim, foi como se morresse um irmão de vitiligo.

Um comentário:

  1. Pensando bem, pra que esse cara queria continuar vivendo se era rico e não fazia tudo aquilo que todos sonham em fazer caso enriquecesse. Eu, ao menos, se fosse rico e famoso pegaria todas as mulheres que passassem na frente e aceitassem, rico e famoso muitas aceitariam, talves não usasse drogas pra não envelhecer e não perder tempo, no máximo um tapinha pra dizer que tive experiências, fumaria um pouco pra parecer do mal, beberia bastante pra que os outros se tornassem mais agradáveis e, acima de tudo, comeria carne de todos os tipos possíveis, inclusive de caça de aves em extinção...)

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