sexta-feira, 7 de maio de 2010

Língua Portuguesa, última bolachinha do Lácio

Língua Portuguesa, A última bolachinha do Lácio, da geral e glamurosa. Olavo Bilac deu um duplo twist carpado no seu venerável caixão. Felizmente, a língua é dos vivos.
Por motivo de minha velhice precoce (nasci com 60 anos), tem coisas que já não aturo. Por exemplo,falar o tal de possui. Num jornal da minha cidade todas as pessoas possuem 30 anos, possuem faculdade, possuem um sorriso cativante, etc. Eu possuo raiva de quem possui. E logo esse verbo tão pernicioso, que o povo todinho escreve "possue", na terceira pessoa. Ah! Tempos bons em que um homem possuia uma mulher. Hum... Nesse sentido, até acho romântico, semanticamente traz a ideia de posse, um tanto machista, da entrega total da mulher possuída, fica meio erótico, meio politicamente incorreto, eu gosto. Mas possuir simpatia? Credo. Outro sentido desse termo é o de posse da coisa, do objeto. Dá uma ideia de poder, de direito, é uma ideia forte. E a noção de possessão espiritual? Nada mais misterioso e assustador. o diabo possuiu o fulano" Até me arrepiei. Isso é que é possuir! Coitado do fulano! Mas possuir alegria contagiante? É como meu possuidor, o otário, que implica com o verbo "incrementar". Somos dois velhinhos.
A língua é um organismo vivo, está sujeita às leis da evolução das espécies (se diz leis em biologia?) e eu ensino isso para meus aluninhos. Mas não tinha outra coisa pra inventar? Ah, tinha sim. O jogar.
Olhe qualquer programa de culinária e arrepie os cabelos do sovaco com frases: você vai estar jogando açúcar mascavo, aí pega e joga o sal... Jogar sal? E a hipertensão? Tá bom, jogar também pode ser dosar, jogar com o sal e o açúcar, mas os culinaristas (e o resto do mundo) estão arremessando coisas nas tigelas. Coisa de quem não sabe cozinhar. A gente cozinha com amor, mistura, junta ingredientes, jamais se joga ingrediente algum. A língua influencia nosso pensamento, de tanto falar em jogar, daqui a pouco farão embaixadinhas com a forma de furo. Professores Marcos Bagno e Sirio Possenti, desculpem essa discípula ignorante.

Um comentário:

  1. Que susto! Estava seguindo a linha do raciocínio de "possuir uma mulher" e me deparei com "a língua é um organismo vivo". Li "a língua é um orgasmo vivo", o que não deixa de ser.
    Mas o pior deve ser possuir algo ou alguém jogado por outrem.
    E o diabo é o cara mais underground que eu conheço. No inferno, ele toca versões do Canto Alegretense sobre a melodia de Help, dos Beatles...

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